Encerrou-se na tarde da última sexta-feira (17), com o assassinato do fazendeiro Adélcio Nunes Leite, umas das maiores histórias de crimes e pistolagens dos Vales do Suaçui Grande, Rio Doce e Mucuri. Adélcio foi morto segundo informações que chegaram à nossa redação, por wathasapp enviado por policiais civis aposentados, quando saia de uma barbearia no município de Lagoa Santa, na região metropolitana de Belo Horizonte. Autores de crimes bárbaros no Leste de Minas ´, os irmãos Leite se tornaram protagonistas de crimes violentos e suas vítimas dificilmente escapavam de suas emboscadas. Como cenas de filme, a saga dos Leite se propagou pelo mundo num roteiro interminável e sempre foram alvos da imprensa desde os anos 80.
O portal Uai descreve assim a história da Família Leite:
Adélcio Nunes Leite, de 79 anos, assassinado com dois tiros ao sair de uma barbearia, em Lagoa Santa, na Região Metropolitana de BH, na manhã dessa sexta-feira (17), teve uma vida marcada por várias ações, incluindo fugas e prisão cinematográficas. Também já havia escapado de uma tentativa de assassinato, por meio de pistolagem, tipo de crime que deu fama à sua família, “Os Irmãos Leite”, que aterrorizaram o Vale do Mucuri.
Entre as várias ações criminosas atribuídas aos “Irmãos Leite”, está a “Chacina de Malacacheta”, ocorrida em 15 de janeiro de 1990, que resultou nas mortes de sete pessoas de uma família em uma fazenda no município do Vale do Mucuri.
Adélcio não somente encomendou o crime, praticado por oito pistoleiros, como também esteve no local do crime no dia da chacina.
Ele e outros integrantes da família foram personagem da cobertura policial do Estado de Minas e de outros jornais mineiros ao longo de décadas.
Adélcio esteve preso na Penitenciaria Nélson Hungria por cerca de 20 anos. Deixou a prisão em 2013, graças a um indulto, por causa de sua idade. Há três anos, foi viver em Lagoa Santa.
Na manhã da última sexta-feira, quando deixava uma barbearia, no Bairro Várzea, na cidade da Grande BH, Adélcio Leite foi morto depois de ser atingido por dois tiros – um no tórax e outro no abdômen. Os disparos foram efetuados por um homem, que estava em um HB20 preto. A vítima tentou sacar uma arma que carregava na cintura e foi alvejado antes de reagir. O assassino fugiu em seguida, em alta velocidade, sem deixar pistas.
Morte ao algoz
No início da década de 1980, após uma série de assassinatos de proprietários rurais e outros moradores de cidades do Vale do Mucuri, crimes motivados pela tomada de terras atribuídos à família Leite, Adélcio Leite sofreu uma tentativa de homicídio por um pistoleiro em uma emboscada. Chegou a ser alvejado e conseguiu escapar, matando o seu algoz, numa situação que se assemelhou a um filme de ação.
De acordo com relatos de um antigo policial da região, dois fazendeiros do Mucuri contrataram um pistoleiro para eliminar os integrantes da família Leite, sendo Adélcio “escolhido” como o primeiro a ser morto. O matador esperou o alvo perto de uma lagoa. Ao chegar ao local, o homem fez vários disparos em sua direção.
Adélcio foi atingido em uma das pernas e revidou: sacou uma arma e fez cinco disparos em direção do pistoleiro, sem acertá-lo. Na sequência, ele mergulhou na lagoa e afundou no meio de uma vegetação, junto ao barro e ao lodo.
De acordo com o relato do policial aposentado, o pistoleiro pensou que Adélcio estava morto e se aproximou do corpo para arrancar uma orelha, que seria usada como prova do “serviço” para o recebimento do pagamento. Nesse instante, Adélcio se movimentou rapidamente e atirou na cabeça do pistoleiro, que teve morte instantânea.
Quarteto famoso
Os irmãos Leite eram temidos em Minas Gerais. O quarteto era formado por Adélcio, Zé Leite, o mais velho e mentor intelectual dos crimes, Alírio – ambos morreram de morte natural –, e Toninho, o mais novo, que também morreu assassinado.
Eles eram famosos em Santa Maria do Suaçuí, a terra dos Leite, e eram acusados de diversos crimes. Mas logo ganhariam fama por serviços de pistolagem em todo o Vale do Mucuri. Governador Valadares, Diamantina e Teófilo Otoni formavam um triângulo e, dentro dele, os Leite agiam. Capelinha, Água Boa, Malacacheta, em especial, ficaram conhecidas como palcos de seus crimes.
Em 1974, os Leite, com a participação de Adélcio, foram responsáveis pelo assassinato do ex-deputado estadual Wander Campos. O político tinha fama de pistoleiro. Chegou a ser preso por um dos crimes dos quais era acusado, ficando detido no DOPS.
Os irmãos Leite havia se aproximado dos militares, e, assim, conseguiam proteção para seus crimes. Pouco tempo depois, tinham uma lista de quem deveria morrer. Eles também focaram conhecidos por realizarem chacinas para tomar terras por causa de pedras preciosas.
Prisão no Pará
Os irmãos José e Adélcio Leite foram presos nove meses após a chacina de Malacacheta, em outubro de 1990. Eles foram capturados por policiais civis mineiros em uma casa de praia, que seria de propriedade de um oficial da Polícia Militar do estado vizinho.
Em junho de 1993, Adélcio Nunes Leite fugiu do Departamento de Investigações (DI). Ele escapou após convencer dois carcereiros a lhe concederem uma “saidinha” e levá-lo até uma casa no Bairro Santa Helena, em Contagem, onde usaria um telefone para trata de negócios.
Chegando ao local indicado, ele despistou os carceiros da escolta e fugiu em um carro, que já o aguardava no fundo da casa. Na ocasião, a Polícia Mineira iniciou um serviço de inteligência e de levantamento de informações a fim de localizar e recapturar o fugitivo.
Depois de buscas em municípios de vários estados, Adélcio foi preso numa grande operação de uma equipe da Polícia Civil de Minas Gerais, que conseguiu localizá-lo em uma fazenda no interior do Pará. A mulher dele estava no local e também foi presa.
A equipe policial chegou a usar um avião para ir até o Pará para prender Adélcio Leite e transportá-lo de volta para Minas Geras. Na época, a ação foi noticiada como uma “prisão cinematográfica”.
Ameaça a jornalista: “Bom para uma faca”
Em 1982, logo após a posse de Tancredo Neves, eleito governador de Minas, recebi a informação de que os irmãos Leite estavam presos no Dops. Tratava-se da desarticulação de uma espécie de sindicato do crime. Os pistoleiros estavam agindo em nome de figuras influentes interessadas em terras ricas em minerais no Leste do Estado. Eles matavam os donos das fazendas, ficavam com a criação e os “sócios” com o solo recheado de pedras preciosas. Entrevistava-os, com perguntas pertinentes e impertinentes. À certa altura, o José Leite olhou firme para mim, bateu na minha barriga e disse: “Você tem um ‘zoinho’ bom para uma faca”. Desde então, andava no escuro e dormia sobressaltado. Agora, com essa notícia, posso voltar à cama com a certeza de um sono tranquilo e sem medo. (Arnaldo Viana, jornalista).
Com informações também do Portal Uai