Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) acendem o alerta sobre o risco representado pelo Anopheles stephensi, mosquito originário da Ásia que já se expandiu pela África e agora ameaça se tornar um vetor urbano da malária no Brasil.
Urbano e adaptável — uma ameaça silenciosa
Diferentemente do Anopheles darlingi, que transmite malária geralmente em regiões florestais, o Anopheles stephensi reproduz-se facilmente em ambientes urbanos — aproveitando água parada em pneus, caixas d’água e outros recipientes —, comportamento que o aproxima do Aedes aegypti.
Essa característica pode transformar a malária, hoje confinada à Amazônia, em uma doença urbana potencial. O estudo da USP, publicado na Scientific Reports, mostra que as condições climáticas e ambientais no Brasil se assemelham a locais onde esse mosquito já se estabeleceu.
Rotas de entrada pouco monitoradas
O trabalho indica que os portos brasileiros representam vias prováveis de entrada da nova espécie. A ausência de uma vigilância estruturada específica para esse vetor expõe o país a um risco de introdução silenciosa e expansão repentina da malária urbana.
Prevenção e tecnologia: as ferramentas atuais
Especialistas recomendam reforçar as medidas já voltadas ao controle do Aedes aegypti — como eliminar focos de água parada — e intensificar campanhas de conscientização pública sobre o risco da chegada do Anopheles stephensi.
Paralelamente, uma estratégia promissora ganha relevância: o uso da bactéria Wolbachia, introduzida em mosquitos como o Aedes aegypti para reduzir sua capacidade de transmissão de vírus. Pesquisas preliminares indicam que este método também pode ser eficaz contra o Anopheles stephensi — e, possivelmente, contra o Anopheles darlingi. A Wolbachia já tem mostrado resultados positivos contra outras arboviroses em projetos implementados no Rio de Janeiro, Niterói e Belo Horizonte.
Ciência e comunidade andando juntas
A adoção dessa estratégia, porém, exige mais do que tecnologia: requer confiança da população. Campanhas de esclarecimento, reuniões comunitárias e participação ativa dos moradores são cruciais para o êxito da medida. A aceitação social é tida como fator decisivo para o sucesso dessa iniciativa