O “dono” da vaga aberta na bancada federal mineira com o licenciamento do deputado federal Bilac Pinto (DEM) para se tornar secretário de governo de Romeu Zema (Novo) não quis ocupar a cadeira na Câmara dos Deputados, que passou para o segundo da fila, Fabiano Tolentino (PPS). Primeiro suplente da coligação, o ex-deputado Marcus Pestana fez um desabafo ao comunicar, nesta terça-feira (27), sua decisão: “Não me adaptei à política como ela se dá hoje”, disse.
Segundo Pestana, a radicalização nas redes sociais e a ideia de rejeição da sociedade aos políticos pesaram na escolha, que também se deve a uma adaptação à iniciativa privada. Como economista, Pestana está trabalhando com a prestação de consultorias.
O martelo da desistência foi batido nesta terça-feira e comunicado depois de uma reunião com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM). “Fiquei muito decepcionado com tudo que aconteceu em 2018, o resultado revela um certo fracasso da minha geração”, disse.
Sobre os eleitos para o governo, Romeu Zema, e presidente, Jair Bolsonaro, o tucano diz se tratar da escolha do povo. “Se devem fundamentalmente aos erros das lideranças da minha geração, são produto de um fim de ciclo político no país e desse ambiente de Lava Jato e de desconfiança da política”, disse.
Tancredo, Ulysses e Covas
Pestana diz ter como referências políticas com Tancredo Neves, Ulysses Guimarães e Mário Covas e que, desde 2016 está incomodado com o “desfecho da nova república” que culmina com a eleição de 2018. “Certamente não era o sionho de Tancredo, Ulysses e Covas”, afirmou.
Com 36 anos de vida pública, o ex-deputado, que presidiu o PSDB e foi secretário por oito anos em Minas no governo Aécio Neves, teve 72,9 mil votos em outubro do ano passado, mas não conseguiu renovar a cadeira na Câmara dos Deputados.
Pestana diz que teve mais votos do que 19 dos 53 eleitos e foi o mais bem votado entre os suplentes. O deputado afirmou que as pessoas não imaginam como a política prejudica a vida familiar e pessoal.
Homenagem a políticos
“Minha decisão de não assumir não é um gesto antipolítica, é um gesto, pelo contrário de homenagem à todos aqueles que se dedicam à política, que para mim é a atividade humana mais nobre por produzir grandes transformações sociais”, disse.
Pestana disse ainda que o retorno na vaga aberta por Bilac seria provisório, já que ele pode sair da secretaria a qualquer momento, e que conversou com aliados do PSDB, como o presidente estadual da legenda Paulo Abi Ackel.
“Todos compreenderam minhas razões. Reconstruí minha vida. Perdi a eleição embora o resultado tenha sido muito superior a alguns eleitos, mas nesses oito meses assumi compromissos pessoais e seria irresponsabilidade cair na aventura de um retorno provisório”, disse.
Juiz de Fora
Questionado sobre a base eleitoral em Juiz de Fora, Pestana disse que o município não lhe deu votos suficientes. “Minha votação caiu para 7 mil depois de tudo que fiz. Juiz de Fora não quis que fosse deputado”, disse.
Pestana foi secretário de planejamento no governo de Eduardo Azeredo, chefe de gabinete do ex-ministro das Comunicações Pimenta da Veiga e por oito anos secretário de Saúde de Aécio. O cargo lhe valeu capital político para ser eleito deputado estadual de 2006 e deputado federal em 2010.