Walter Andrade – Repórter
Quando a vítima é o repórter: Um relato pessoal que pode ser o alerta que você precisa
Nesta reportagem emocionante, o jornalista veterano Walter Andrade assume a difícil tarefa de contar sua própria história. Após sofrer um infarto e escapar por pouco graças ao rápido atendimento médico, Andrade retorna às páginas que tanto ama, trazendo uma visão única sobre a fragilidade da vida e a importância de cada momento.
Com sua habilidade narrativa e olhar atento, ele transforma seu drama pessoal em uma reflexão profunda, revelando como a experiência o impactou e reforçando sua paixão pelo jornalismo. Mais do que um relato, esta é uma prova de resiliência e amor pela profissão.
Na manhã do dia 7 de setembro de 2024, enquanto o Brasil celebrava sua independência, meu corpo dava sinais de que algo estava errado. Aquela que deveria ser uma data de festa tornou-se o dia mais desafiador. Foi quando sofri um infarto e precisei de uma corrida contra o tempo para salvar meu coração — e minha vida.
Acordei de madrugada com uma dor avassaladora no peito. Meus braços também doíam intensamente. Eu suava, evacuava e vomitava. Decidi tomar um banho morno e, mesmo debilitado, resolvi dirigir até o hospital – uma escolha arriscada, mas que, felizmente, me levou ao lugar certo e, no tempo certo.
Cheguei ao Pronto Socorro do Hospital Municipal em Governador Valadares (MG) menos de dez minutos depois e fui atendido pela médica plantonista Vanessa Fernandes de Paula, que tomou as medidas iniciais de emergência e, após o eletro encefalograma, confirmou o diagnóstico: Infarto Agudo do Miocárdio (IAM), causado por obstrução nas coronárias. Graças à equipe de plantão do Hospital Municipal e ao tratamento rápido com trombolíticos, minha vida foi salva.
Assim que identificado o quadro clínico fui inserido no sistema SUS Fácil para aguardar a liberação de um leito em uma UTI cardíaca. “O papel da equipe de plantão foi crucial para estabilizar o paciente e iniciar o protocolo de tratamento adequado. No caso do infarto, cada minuto conta. O rápido uso de trombolíticos para dissolver coágulos foi a diferença entre a vida e a morte”, explicou Vanessa.
Além disso, o suporte contínuo da equipe multidisciplinar garantiu que eu recebesse atendimento humanizado e técnico, essencial para o sucesso do tratamento inicial. Mesmo assim, fui encaminhado para a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) onde fiquei por sete dias. Estava com lesões graves e segmentares nas três artérias coronárias. Uma estava com 80% de comprometimento, outra 40 e a terceira 30%. O tratamento principal foi o popular cateterismo com introdução do catéter balão e implante de stent farmacológico.
Essa experiência não é só minha; ela é compartilhada por milhares de pessoas todos os dias. Muitos, no entanto, não têm a mesma sorte. Por isso, é essencial fomentar uma conversa aberta sobre o infarto, seus sintomas, prevenção e tratamento, para que mais pessoas reconheçam os sinais e tomem medidas a tempo.
O Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) é uma doença de elevada incidência, com mortalidade chegando a 50% em 30 dias, sendo que mais da metade destas mortes ocorre antes do paciente receber assistência médica. O IAM com elevação do segmento ST é causado pela ruptura e/ou erosão de uma placa aterosclerótica, resultando em trombose sobre o local de ruptura e oclusão do fluxo sanguíneo na artéria coronária acometida. Os pacientes com infarto do miocárdio podem desenvolver insuficiência cardíaca ou arritmias ventriculares potencialmente fatais resultantes do dano miocárdico.
A disponibilidade de Unidades de Terapia Intensiva e as intervenções terapêuticas como AAS, Inibidores da Enzima Conversora da Angiotensina (inibidores da ECA) e mais recentemente a terapia de reperfusão miocárdica resultaram em importantes avanços no tratamento do infarto, com redução significativa da sua mortalidade. O benefício da terapia de reperfusão depende fundamentalmente do tempo de administração, sendo tanto maior quanto mais precoce for instituído. Assim, o treinamento constante dos profissionais de saúde é fundamental para que se consiga alcançar, na prática, os benefícios demonstrados por estas intervenções.
Após sair da UTI, começou a segunda parte da minha jornada: a recuperação. Desde então, sigo em tratamento, aprendendo a ouvir meu corpo e a cuidar melhor dele. Minha rotina mudou completamente: alimentação saudável, prática de atividades físicas leves e, principalmente, controle específico do estresse.
Mais do que um susto, o infarto foi um divisor de águas. Ele me forçou a refletir sobre prioridades e a valorizar momentos simples que antes passavam despercebidos.
Essa é minha história, que ainda está em andamento. O tratamento continua, mas uma coisa é certa: estou aqui para contar o que vivi e, quem sabe, ajudar você a não passar pelo mesmo. Afinal, a prevenção é o maior ato de amor que podemos oferecer a nós mesmos.
Então, meu conselho é simples: cuide do seu coração. Faça check-ups regulares, pratique exercícios, adote uma dieta balanceada e, acima de tudo, ouça o que seu corpo está tentando dizer. A vida é um presente, e cada batida do coração é uma chance de vivê-la plenamente.
Reconheça os sinais:
O infarto pode ser silencioso, mas nunca discreto
WA
De acordo com o cardiologista Wanner Villaça, que acompanhou meu caso, os principais sintomas do infarto incluem:
Dor no peito ou sensação de abertura, frequentemente irradiando para braços, costas, mandíbula ou pescoço;
Suor excessivo , muitas vezes acompanhado de palidez;
Náuseas e vômitos , sintomas frequentemente subestimados;
Fadiga extrema e sensação de falta de ar.
“Muitas vezes, os pacientes ignoram os sinais iniciais ou os confundem com cansaço ou azia. Essa negligência pode ser fatal. Qualquer desconforto torácico que dure mais de 10 minutos deve ser tratado como emergência médica”, alerta o médico.
Por que o infarto acontece?
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O infarto ocorre quando uma ou mais artérias coronárias ficam bloqueadas, geralmente devido ao acúmulo de placas de gordura nas paredes dos vasos sanguíneos – um processo conhecido como aterosclerose.
“Os fatores de risco, como má alimentação, sedentarismo, estresse e tabagismo, desempenham um papel crucial no desenvolvimento dessas obstruções”, explica a enfermeira-chefe do plantão.
Prevenção é a chave:
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Adote uma dieta equilibrada, rica em vegetais, grãos integrais, proteínas magras e gorduras saudáveis;
Pratique atividades físicas regularmente, mesmo que sejam leves;
Evite fumar e limite o consumo de álcool;
Monitore regularmente sua pressão arterial, colesterol e níveis de açúcar no sangue.
Quando o tratamento faz a diferença
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No meu caso, a equipe médica do Hospital Municipal optou pelo uso de trombolíticos, medicamentos que dissolvem coágulos e permitem a interrupção do fluxo sanguíneo. “Esse tratamento é usado quando o tempo é crítico e não há condições imediatas para angioplastia”, explica Vanessa Fernandes.
O sucesso desse procedimento depende da rapidez do diagnóstico. Por isso, não tente dirigir até o hospital, como eu fiz. Chame imediatamente o SAMU ou procure ajuda médica especializada.
Pertencendo a uma comunidade de pacientes
WA
Passar por um infarto pode ser assustador, mas ninguém precisa enfrentar isso sozinho. É fundamental que pacientes, familiares e a sociedade participem ativamente da investigação sobre saúde cardiovascular.
Dicas para a jornada do paciente:
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Eduque-se: Compreender os fatores de risco e os sinais de alerta;
Converse com outras pessoas: Compartilhar experiências pode aliviar o medo e estimular a importância da prevenção;
Acompanhar a recuperação: Após um infarto, o acompanhamento médico e a adesão ao tratamento são essenciais para evitar novos episódios.
Um agente de mudança para a saúde coletiva
WA
Minha experiência me mostrou que falar sobre infarto vai além da saúde individual. É um compromisso com todos aqueles que podem ser salvos pelo acesso a informações de qualidade. Ao disseminar esse conhecimento, criamos uma rede de apoio que capacita a comunidade e incentiva mudanças positivas no estilo de vida.
O infarto é uma realidade, mas a prevenção e a ação rápida podem mudar completamente o desfecho. Que esta reportagem seja um ponto de partida para um diálogo mais amplo e um passo decisivo rumo à saúde do coração de todos nós.
Após o susto e o início da recuperação, ficou claro que o infarto não é um evento isolado, mas o resultado de hábitos acumulados ao longo dos anos. “Os principais fatores de risco são má alimentação, sedentarismo, estresse e doenças crônicas como hipertensão e diabetes”, alertou o cardiogista Wanner Villaça.
A falta de uma dieta equilibrada, rica em vegetais, frutas e grãos integrais, é um dos maiores vilões. “O consumo excessivo de alimentos ricos em gordura, açúcar e sódio contribui para a formação das placas de gordura que obstruem as artérias”, explicou o médico. O estilo de vida sedentário, por sua vez, acelera esse processo ao enfraquecer o sistema cardiovascular.
O infarto, embora assustador, pode ser prevenido. Doutor Wanner enfatizou a importância de check-ups regulares: “Muitas vezes, a pessoa não percebe os sinais de alerta, como pressão alta ou colesterol elevado. Por isso, exames periódicos são fundamentais.”
Adotar uma rotina de exercícios físicos, mesmo que moderada, já traz benefícios para a saúde do coração. “Uma caminhada de 30 minutos, cinco vezes por semana, é um ótimo começo”, recomendou a equipe médica.
Além disso, uma mudança na alimentação é essencial. “Trocar alimentos industrializados por opções naturais e reduzir o consumo de gorduras saturadas pode ajudar a evitar que as artérias fiquem obstruídas”, reforçou o médico.
Hoje, após o episódio, entendo que minha vida recebeu uma segunda chance. O susto me levou a compensar escolhas e adotar um estilo de vida mais saudável. Quero que minha experiência sirva de alerta: não espere o coração gritar por socorro para agir.
O infarto não dá segundas chances para descuidos, mas oferece uma oportunidade de transformação para quem sobrevive. Cuide da sua saúde, ame sua vida e lembre-se de que a prevenção começa agora.