Prefeito derrotou o deputado estadual Bruno Engler (PL) e vai continuar no comando da capital mineira pelos próximos quatro anos
“Muito obrigado a todos, os milhares de eleitores que votaram em mim neste segundo turno, proporcionando essa virada histórica. Muito obrigado também a todos que não votaram em mim, por respeitarem a beleza da democracia”, disse o prefeito Fuad Noman em seu primeiro discurso após a reeleição.
A reeleição de Fuad Noman (PSD), para a Prefeitura de Belo Horizonte (MG) neste domingo, 27 de outubro, não foi apenas uma vitória eleitoral, mas também um triunfo pessoal e político. Até alguns meses atrás, Noman era relativamente desconhecido pela maior parte da população, um desafio que exigia uma estratégia de campanha intensa e cuidadosa. Com 53,73% dos votos, ele derrotou o deputado estadual Bruno Engler (PL), que conquistou 46,27%, nesse pleito.
A propaganda eleitoral desempenhou um papel crucial ao apresentar as realizações da prefeitura sob o comando de Noman. Em suas peças, a campanha destacou obras de infraestrutura, melhorias no sistema de saúde e outras ações administrativas que buscavam fortalecer a eficiência de sua gestão.
Noman superou ainda a falta de apoio do ex-prefeito Alexandre Kalil, de quem foi vice e sempre se declarou amigo. No entanto, Kalil, que deixou o PSD para se filiar aos Republicanos, optou por apoiar o deputado estadual Mauro Tramonte, que terminou em terceiro lugar no primeiro turno. Sem o respaldo de Kalil, Noman centrou sua campanha em consolidar sua imagem como um candidato de centro e em mostrar o impacto de suas ações à frente da prefeitura.
Outro desafio importante para Fuad Noman foi a campanha eleitoral enquanto tratava um câncer no sistema linfático. Em meio aos compromissos e debates, Noman revelou, no último dia 15 de outubro, ter concluído as sessões de quimioterapia, mostrando força e resiliência ao longo do processo. Essa superação pessoal se tornou um componente de sua narrativa política, aproximando-o do eleitorado ao evidenciar sua dedicação tanto à cidade quanto à sua saúde.
A vitória de Noman reflete o sucesso de uma campanha externa para o diálogo com o eleitor e para as declarações de um projeto administrativo de continuidade, desvinculado de alinhamentos ideológicos rígidos.
A campanha de Noman foi pautada pela defesa de propostas de desenvolvimento urbano e continuidade dos programas de infraestrutura e saúde implementados em Belo Horizonte nos últimos anos. Já Engler, representante da ala mais conservadora do bolsonarismo, buscou consolidar seu espaço entre o eleitorado mais à direita, mas encontrou resistência. A derrota de Engler reforça o declínio do apoio ao bolsonarismo em Belo Horizonte.
A vitória de Noman também reflete a adesão de eleitores belo-horizontinos a um perfil administrativo mais voltado para a gestão pública, em detrimento de uma retórica mais polarizadora.
Bacharel em Ciências Econômicas pelo Centro de Ensino Unificado de Brasília (Ceub) e pós-graduado em programação econômica e execução orçamentária, Fuad foi funcionário de carreira do Banco Central e do Banco do Brasil. Passou a ocupar cargos públicos ao ser chamado para a função de secretário-executivo da Casa Civil da Presidência da República na gestão de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), eleito em 1994. Ainda no exercício de cargos por trás dos holofotes da política eleitoral, ele foi consultor do Fundo Monetário Internacional (FMI) no governo de Cabo Verde.
O retorno a Minas Gerais, após longa jornada no Planalto Central e passagem pela África insular, se deu a partir do pouso tucano no governo estadual. No primeiro governo de Aécio Neves (PSDB), em 2003/2006, e no de Antonio Anastasia (então no PSDB), em 2010/2014, Fuad Noman chefiou as secretarias de Fazenda, de Transporte e Obras Públicas e a Extraordinária da Copa do Mundo de 2014.
O ingresso na Prefeitura de Belo Horizonte veio junto de Kalil. Em 2017, primeiro ano do ex-correligionário no comando da cidade, Fuad começou como secretário municipal de Fazenda. Quatro anos mais tarde, ele seguiria no número 1.212 da Avenida Afonso Pena, mas já na condição de vice-prefeito. Entrou na campanha já sem o apoio de Kalil, que preferiu se aliar a Mauro Tramonte (Republicanos) e adotar uma estratégia beligerante de ataques a seu sucessor.
A gestão atual na prefeitura foi o principal alvo dos adversários. Embora se mostrasse perceptivelmente incomodado com as críticas recebidas, a postura oficial da campanha do pessedista apostou em não entrar em confrontos.
Mais do que não contra-atacar, Fuad preferiu evitar oportunidades diante da imprensa e de seus concorrentes. No primeiro turno, foi a apenas três debates. Nesta segunda etapa da campanha, compareceu apenas aos dois últimos, transmitidos pela rádio Itatiaia e pela TV Globo, e desmarcou sabatinas com jornalistas.
À frente nas pesquisas de intenção de voto, o prefeito atravessou a campanha de segundo turno como favorito também ao angariar mais apoios que seu adversário, preso ao ímã da extrema direita bolsonarista representada por PL, PP e parte do Republicanos. Já na reta final, Fuad comemorou a remissão de um linfoma não Hodgkin, que o obrigou a aliar os compromissos eleitorais, de prefeito e do tratamento oncológico nos últimos meses.
Dizendo-se revigorado, animado e até mesmo já saudoso de sua experiência de estreia em campanhas eleitorais, o prefeito viveu na semana derradeira o momento mais agressivo de uma disputa até então relativamente morna na capital mineira.
Além da atuação nos bastidores, e agora no palco principal, da política, Fuad é autor de três livros, “Marcas do passado”, “O amargo e o doce” e “Cobiça”. Este último ganhou destaque na reta final da campanha. A obra tem trechos eróticos e passagens que narram episódio de violência sexual contra uma adolescente. Esses pontos caíram na graça de Engler e seus apoiadores, em especial o deputado federal Nikolas Ferreira (PL), que inundaram as redes sociais com materiais que deixam em absoluta evidência as partes do livro pretensamente censuráveis com uma notória ignorância da distinção entre literatura e sugestão.
Mas os ataques do adversário não foram suficientes para derrotar Fuad no segundo turno. Ele vai comandar BH por mais quatro anos e, como repetiu ao longo de toda a campanha, tem o objetivo de terminar as muitas obras que iniciou.