
A Etiópia oficializou hoje a inauguração da Grand Ethiopian Renaissance Dam (GERD), considerada a maior usina hidrelétrica do continente africano. Com investimento de US$ 5 bilhões, o empreendimento tem capacidade instalada de 5.150 megawatts, colocando-se entre as 20 maiores hidrelétricas do mundo.
A capacidade plena da hidrelétrica torna-se a espinha dorsal da ambição etíope de eletrificar o país — lar de mais de 120 milhões de habitantes — e transformar-se em exportador regional de energia. O reservatório, com extensão maior do que a Grande Londres, também foi projetado para apoiar a irrigação e o controle de cheias em regiões abaixo da barragem.
Evento marcante e retórica diplomática
A cerimônia de inauguração, realizada no local da obra, contou com a presença de líderes regionais e teve um emocionante sobrevoo de jato militar sobre as águas formadas pela barragem, sob uma imensa bandeira etíope. O primeiro-ministro Abiy Ahmed aproveitou o evento para enfatizar que o projeto foi concebido “para prosperar, eletrificar toda a região e mudar a história do povo”, e não para prejudicar nações vizinhas como Egito e Sudão.
Repercussão e tensões regionais
Apesar dos benefícios anunciados para setores rurais e industriais — como mineração de criptomoedas —, o projeto reacende a tensão com o Egito, país dependente da água do Nilo para cerca de 90% de seu abastecimento. Cientistas e governantes egípcios alertam para reduzir o fluxo nos períodos de seca e acusam a Etiópia de agir unilateralmente, sem acordos vinculativos.
Até o momento, a Etiópia assegura que não houve interrupções no fluxo de água para as regiões a jusante, mas a falta de consenso formal com o Egito e o Sudão segue sendo um ponto de atrito latente. O projeto, financiado em sua maior parte internamente, renova a simbologia de união nacional em meio aos conflitos internos e representando o orgulho do país.
Conclusão
A inauguração da GERD representa um salto tecnológico e econômico para a Etiópia, com potencial para transformar seu perfil energético — e consolidar-se como referência regional. No entanto, o sucesso dessa transição dependerá de negociações diplomáticas eficazes com os países que partilham os leitos do Nilo, especialmente em um contexto de segurança hídrica que já é frágil.