No último sábado (23/9), cerca de 500 pessoas que assistiram ao “Primeiro Desfile Inclusivo de Contagem”, realizado pela Prefeitura, na praça central do Big Shopping, no Eldorado. Elas vivenciaram um desfile diferente e encantador.
Sob a coordenação da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC) e realizado como encerramento das festividades da Semana da Pessoa Com Deficiência, o desfile se propôs a algo verdadeiramente belo e igualmente emocionante: ditar como tendência uma sociedade verdadeira e absolutamente inclusiva.
“Esse desfile é para que as pessoas com deficiência se exponham mesmo, que apresentem seus corpos, sua espontaneidade e o seu jeito de ser e de viver. É uma maneira de mostrar nossa identidade para a sociedade e dizer que nós temos orgulho de ser o que somos, exatamente como nos apresentamos. Nossos corpos para nós não são um problema; são parte do que somos e é com ele que nós nos colocamos no mundo”, disse o secretário municipal de Direitos Humanos e Cidadania, Marcelo Lino, em seu discurso na abertura do evento.
Estrutura do Desfile
A Prefeitura de Contagem deu ao desfile uma estrutura comparável à das grandes grifes e dos estilistas internacionalmente paparicados. Um poderoso equipamento de som, um telão de led e, no epicentro do evento, uma passarela totalmente iluminada de modo a destacar os modelos que por ela passaram.
Quem abriu os trabalhos foi a Miss Sarzedo CNB, Fernanda Venâncio, que será a primeira deficiente a participar da disputa do Miss Minas Gerais. Ela tem 24 anos e teve a perna amputada com apenas 15 anos, em decorrência de uma doença.
Modelo profissional, ela disse que a moda deve ser veículo de inclusão também para as pessoas com deficiência. “Muitas vezes somos subestimados pelas nossas capacidades. Porém todos nós temos algum tipo de deficiência e eu acredito que um evento como esse mostra o potencial das pessoas com deficiência”.
Fernanda destacou a importância do evento pela autoestima que ele proporciona aos participantes. “Eu mesma, como modelo, muitas vezes enfrentei situações em que eu me via mais pela minha prótese do que pelo meu potencial. É uma oportunidade para eles brilharem, para eles se sentirem incluídos. Porque inclusão é isso, não é só rampa de acesso ou assento preferencial. A inclusão é o viver, é a essência”.
Na sequência, ganharam o protagonismo da tarde o estafe de modelos autistas, com Síndrome de Down, surdos, cegos e cadeirantes. Os looks foram os mais variados: charmosas batas sem colarinho; a casualidade das camisas de super-heróis, a leveza dos vestidos florais, coletes que davam um “tchã” ao vestir mais cotidiano, blusas adornadas com swarovski, transadíssimos cabelos rosa pink ou azul turquesa — quando não uma mistura de ambos os tons — entre outras coisas.
Caiu um cisco aqui
A ternura do público presente foi um show à parte, dessas coisas que os desfiles de badalados estilistas não conseguem promover. A cada entrada de modelo, calorosas salvas de palmas e assobios eufóricos. Em cima da passarela, os participantes respondiam aos gestos de afeição com acenos alegres ou beijos soprados das pontas dos dedos. Em momentos assim, a esfera de beleza e glamour da festa “arranhava” um pouco pelos vários olhos nos quais o rímel borrava – resultado direto do lacrimejo involuntário e inevitável. Nem podia ser diferente.
Moradora do bairro Novo Eldorado, Ana Cláudia Barbosa é mãe do modelo William Douglas. Cadeirante, ele foi à passarela com uma bela camisa floral. Ela falou da sua emoção. “Para mim, que sou mãe de um filho com deficiência, não teve nada melhor do que ver a alegria dele. É colocá-lo na sociedade com todo mundo aplaudindo. Todos os que estavam presentes, nós vimos olhos deles cheios de lágrimas de ver a alegria dos nossos filhos. Isso é mil’, disse ela, também com os olhos marejados.
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Com um belíssimo cabelo Rosa Pink, Luana Oliveira também modelou durante o desfile. Moradora do bairro Parque Airton Senna (região da Ressaca), ela é universitária do curso de Sistemas da Informação. Cursando o oitavo período e quase se formando, ela foi convidada para participar do desfile nas reuniões do Projeto Sem Limites, mantido pela Prefeitura de Contagem, e que realiza o transporte gratuito de pessoas com deficiência física ou mobilidade reduzida do município também para escolas e universidades.
“É importante para que as pessoas vejam que nós também temos capacidade de fazer coisas iguais a elas. Coisas que todo mundo faz. É legal as pessoas verem isso”.
Ao final, a superintendente de Políticas Públicas para Pessoas com Deficiência, Dandara Matchelli, explicou que o desfile serve como um dos caminhos rumo a uma transformação cultural, onde a deficiência deixa de ser um estigma para se tornar um símbolo da nossa capacidade de abraçar, acolher e enriquecer-nos com a diversidade à nossa volta.
“Nosso objetivo é destacar e empoderar as pessoas com deficiência, dando-lhes visibilidade e protagonismo na busca por uma transformação cultural no que diz respeito à compreensão da deficiência”.