Como a China usa as terras raras como uma arma estratégica

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China responde por mais de 60% da produção global de terras raras e por quase 90% do refino Foto: Xinhua News Agency/IMAGO

Nos últimos anos, a China tem consolidado sua posição como líder mundial na produção de terras raras, um conjunto de 17 elementos químicos essenciais para a fabricação de uma vasta gama de tecnologias modernas, desde smartphones até sistemas de defesa. Contudo, o que antes era visto como um recurso fundamental para o desenvolvimento econômico global, agora se tornou um ponto central na geopolítica mundial, com Pequim utilizando o controle sobre essas matérias-primas como uma poderosa ferramenta de pressão econômica e política.

Em um cenário global cada vez mais polarizado, a China tem empregado sua vasta dominância no mercado de terras raras para moldar as relações comerciais e influenciar o equilíbrio de poder entre as grandes potências. Embora as terras raras representem apenas uma pequena fração das exportações chinesas, o controle sobre elas dá ao país um imenso poder estratégico, especialmente em um momento de intensificação das tensões comerciais com os Estados Unidos e outros países ocidentais.

A China detém mais de 60% da produção mundial de terras raras, e controla cerca de 80% do processamento desses materiais. Isso lhe confere uma posição de monopólio praticamente imbatível, tornando-se essencial para qualquer nação que deseje avançar em setores como tecnologia de ponta, energia renovável e até mesmo em armamentos militares. Desde 2010, Pequim já utilizou essa vantagem como uma alavanca política, limitando a exportação de terras raras para certos países, como o Japão, em um claro sinal de sua capacidade de manobrar o mercado global.

O impacto desse controle se estende além da economia. As terras raras são indispensáveis para a produção de equipamentos militares avançados, como mísseis e radares de última geração. Assim, ao restringir o acesso a esses materiais, a China pode não apenas impactar a indústria tecnológica, mas também a segurança nacional de outras potências. O uso estratégico dessas matérias-primas tem sido uma das armas mais sutis, mas eficazes, de Pequim nas últimas décadas.

Além disso, a crescente demanda por energias renováveis também eleva a importância das terras raras. Para países como os Estados Unidos, que buscam transitar para uma matriz energética mais verde, a dependência de materiais como o neodímio e o praseodímio, utilizados em ímãs para turbinas eólicas e baterias de carros elétricos, coloca a China em uma posição ainda mais estratégica. O país tem, assim, a capacidade de manipular os mercados globais, ao determinar a oferta e os preços de um recurso tão crucial para as tecnologias do futuro.

No entanto, apesar de sua vantagem geopolítica, a China enfrenta desafios, tanto internos quanto externos. O controle do setor de terras raras está começando a ser contestado por outros países que, temendo uma excessiva dependência de Pequim, vêm buscando alternativas e diversificação de suas fontes. Iniciativas nos Estados Unidos, Japão e União Europeia têm se intensificado nos últimos anos para reduzir a dependência das terras raras chinesas, incluindo o desenvolvimento de novos métodos de extração e o aumento da reciclagem desses materiais.

Neste contexto, as terras raras deixam de ser apenas um recurso mineral para se tornarem um ativo estratégico de grande valor geopolítico. O futuro das relações internacionais dependerá, em grande parte, de como os países conseguirão navegar nesse novo cenário de dependência mútua, onde as matérias-primas se tornaram um campo de disputa tão importante quanto a tecnologia ou os mercados financeiros.

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